Táta Kinamboji com Iyá Aduni Benton na II CNC. |
O MinC ofertou, do dia 27 a 30 de novembro, a I
Oficina Nacional de Construção de Políticas Públicas para Povos Tradicionais de
Terreiros, em São Luís
do Maranhão. O objetivo foi conhecer melhor as necessidades dos povos, e
receber deles propostas de políticas públicas específicas para essas culturas.
Foram ofertadas 100 vagas para líderes de povos tradicionais de terreiro de
todo o Brasil e mais 40 vagas, ofertadas pelo governo maranhense para líderes
do estado, que juntos, elaboraram propostas que serão mescladas ao Plano
Nacional de Cultura.
O evento além promover
a cultura desses povos com apresentações e manifestações artísticas, ofertou
discussões acerca das problemáticas deles com temas como Patrimônios Culturais,
Sustentabilidade, Direitos Civis entre outros.
O sacerdote, artista e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFPA,
Arthur Leandro, conhecido no Candomblé como Táta Kinamboji, e que foi um dos 100 inscritos,
ressalta que essa é uma grande conquista para os povos. “Pela primeira vez na
historia do país, o governo toma a iniciativa de conversar com os povos
tradicionais de terreiro. Esse é um fato histórico” comenta o sacerdote do
Candomblé, que representou o Pará junto com mais quatro pessoas.
Táta participou do
grupo de discussões com o tema Comunicação e fez algumas propostas acerca desse
tema. Inicialmente, o professor critica
a concessão de canais para empresas que promovem a violência religiosa, ou
seja, apresentam programas de determinada religião e condenam outras. Ele cita
como exemplo a rede Record, a Rede Vida, a TV Nazaré, e narra um episódio em
que o Programa do Ratinho do SBT fala mal e ridiculariza as religiões,
mostrando uma reportagem em que o prefeito de Belém, na época, Edmilson
Rodrigues em gestão do PT, permite que as religiões afro tenham livre acesso a
cemitérios públicos para rituais. A reportagem foi apresentada pelo assistente
de palco conhecido por Sombra com a frase “Prefeito de Belém libera cemitério
para Macumba”.
A partir disso, o
artista exige que o governo federal retire a concessão de canais para empresas
que praticam esse tipo de violência, pois o Brasil é um país laico. Arthur fala
que outra proposta foi a inserção de programas que falem sobre as culturas de
povos de terreiro em canais públicos, pois essas religiões são
descriminalizadas e têm poucos espaço nas mídias, a não ser quando são alvo de
críticas ou são vistas como curiosidade por elas.
Levando em conta uma
pesquisa que o próprio Ministério da Cultura fez para mapear os povos de
terreiro em três capitais brasileiras, Belém, Recife e Belo Horizonte, Táta
elabora a proposta da criação de cotas para esses povos. Somente em Belém,
foram mapeados 3180 terreiros, sendo que em cada um deles vivem cerca de 30 a 35 pessoas. Elas
representam 10% da população de Belém, porcentagem significativa o bastante
para que se abram vagas específicas em universidades e para que se estabeleçam
políticas com cota de 10% para eles em todas as ações do ministério.
Como professor, Arthur
também reivindica o espaço da cultura dos povos de terreiro no espaço em que
trabalha. “A UFPA e o ICA [Instituto de Ciências da Arte] ainda têm resistência
quando se fala em povos tradicionais de terreiro”, ele diz. A disciplina Poéticas
Visuais Afro-Brasileiras, do curso de Artes Visuais, já foi aprovada pelo
instituto, porém ainda não entrou em atividade. “A Universidade Federal do Pará
não tem interesse nas comunidades tradicionais de terreiro” ele critica.
A I Oficina Nacional de Construção de Políticas
Públicas para Povos Tradicionais de Terreiros, produto da II Conferência Nacional
de Cultura, ocorrida em março de 2010, termina e o que resta são
esperanças dos povos. Mesmo com todas as propostas feitas e o Ministério cheio
delas, nada foi garantido, nenhuma das propostas. A Oficina, que já começou de
uma forma excludente, validando inscrições apenas pela internet, até agora é
apenas um fato histórico, e sem resultado algum.Texto: Gustavo Aguiar
Nenhum comentário:
Postar um comentário