Projeto desenvolvido na UFPA tenta melhorar a saúde do amazônida, sem esquecer a questão social
Brenda Maciel & Caio Oliveira
No
último andar do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), a professora Rosane
Loiola desenvolve um projeto que pode fazer uma grande diferença no combate às
doenças do aparelho digestivo, um mal muito comum e desconhecido na Amazônia. O
Laboratório de Imuno-Genética da UFPA tem realizado grandes avanços no estudo
da Helicobacter pylori e sua interação com os indivíduos, apesar
do grande desafio que é fazer ciência no Pará.
A linha de pesquisa do projeto envolve o
estudo da relação da bactéria causadora de doenças inflamatórias no estômago
com o seu hospedeiro, nesse caso em especial, com o amazônida. Os fatores
genéticos - como o tipo sanguíneo - e os fatores sociais são levados em consideração. De
acordo com a professora, nossa região tem a maior ocorrência na transmissão da
bactéria, seja por questões sociais ou culturais
De acordo com as pesquisas na área, o norte
do Brasil possui o maior índice de câncer de estômago do país, com cerca de 90%
da população acometida pela H. pylori.
Além disso, 80% da região norte sofrem de algum tipo de úlcera gástrica e 70%
de algum grau de gastrite. A falta de saneamento básico é uma das causas, pois
a transmissão da H. pylori é
oral-fecal, o que denota que alimentos e água inadequada são os principais
meios de contaminação. Segundo a professora, a fase em que mais ocorre a
aquisição da bactéria é durante a infância, até os cinco anos de idade, e no
meio intra-familiar.
Hábitos comuns da região podem se mostrar
perigosos quando o assunto são as doenças gástricas. Comer peixe salgado com
açaí é um deles, além da falta de consumo de verduras. Tudo isso prejudica a
saúde do povo amazônico, pois tornam o organismo propício para a instalação da H. pylori, uma das bactérias capazes de
sobreviver em um ambiente ácido.
A professora Rosane diz que além de
descobrir vias de tratamento dessas patologias, através da pesquisa, ela e sua
equipe tentam, de alguma forma, alertar as entidades públicas da gravidade da
situação. Um maior investimento em saúde e saneamento pode diminuir
consideravelmente a incidência das doenças gástricas. Desde 1996, a Pós-Graduação em Agentes Infecciosos
e Parasitários pesquisa sobre as doenças gástricas, mas só nos últimos anos a
Faculdade tem dado ênfase em melhorar as condições de vida da população.
A grande dificuldade da pesquisa é a falta
de financiamento, como ocorre com frequência em algumas instituições públicas
de ensino, principalmente em nossa região. Para levar o estudo à diante, a
Faculdade tem parcerias com institutos como o Hospital Universitário Bettina
Ferro, o Hospital Ophir Loyola e o Instituto Evandro Chagas, sendo que a UFPA
fornece o espaço físico e a estrutura necessária.
Os dois bolsistas do projeto participam
através de estágio voluntário, e fazem parte de uma equipe de cerca cinco
pesquisadores diretamente ligados com o estudo. Porém, mesmo com todas essas
dificuldades, esses cientistas tentam cumprir seu compromisso social ajudando a
salvar vidas no mundo inteiro sem esquecer o povo da Amazônia.