domingo, 9 de outubro de 2011

Instituto de Ciências Biológicas promove o estudo de novos medicamentos contra o câncer.


por Ana Carlina Matos e Laís Nunes.


     Novas drogas vêm sendo testadas no combate de um tipo de câncer que, para a surpresa de alguns, é líder de incidência no nosso Estado: o câncer gástrico. O Norte é a terceira região mais afetada do Brasil, e o Pará consta no topo dessa lista. ICB, localizado no campus I da UFPA, realiza pesquisas avançadas na área, e é coordenado pelo renomado especialista, o equatoriano Dr. Rommel Burbano.

     O câncer surge quando uma célula comum perde o controle da sua própria divisão celular, multiplicando-se incontáveis vezes, formando tumores malignos. O gástrico, em especial, diz respeito às células estomacais, e tem uma estreita ligação com os hábitos alimentares e certas patologias. Atualmente, seu único tratamento garantidor de cura é a cirurgia de remoção dos linfonodos, e em alguns casos, partes do órgão precisam ser removidas também. A radioterapia e a quimioterapia agem de maneira secundária, porém não menos importante, pois ajudam a determinar uma melhor resposta ao tratamento.

     E é na parte da quimioterapia que a estudante Nayana Machado faz suas pesquisas, orientada pelo professor Dr. Marcelo Bahia, formado pela UFPA. Ela pesquisa a atuação de dois medicamentos. O primeiro, a Doxorrubicina, comprovadamente eficaz por estudos anteriores e já usada no tratamento de pacientes, combate as células cancerígenas, mas afeta também as células saudáveis, causando efeitos colaterais indesejáveis. O outro medicamento, o Canova, estimula o sistema imunológico, e protege as células saudáveis do câncer, também já é usado no tratamento.O estudo consiste no tratamento com o uso simultâneo de ambas as drogas, o cerne da questão é proteger as células saudáveis dos medicamentos evasivos que combatem as células cancerígenas. Ou seja, usar a Canove para limitar a atuação da Doxorrubicina a apenas as áreas afetadas pela doença.

     Até agora, a pesquisa tem mostrado certo êxito nos resultados obtidos em laboratório, mas ainda são estatisticamente insuficientes, o que mostra uma necessidade de aprofundar os estudos até que esse novo tratamento seja liberado para o uso em pacientes, porém não há expectativas de quanto tempo pode demorar até que esse estudo seja concluído. Por enquanto, precisamos estar atentos aos cuidados necessários para preservar a nossa qualidade de vida.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A visão das grandes mídias sob os povos “Marginalizados”


Carlos Fernando

O Jornalista, Professor e Pesquisador da UFPA, Manuel Dutra, escreveu um artigo falando da abordagem de temas amazônicos sob o olhar das grandes mídias. O artigo “Mídia e apropriação de saberes tradicionais: a recorrência de um discurso de afirmação e de negação estratégicas fala sobre a abordagem dos grandes meios de comunicação sobre a vida dos povos “marginalizados”.
O Professor fala sobre a visão “preconceituosa” da grande mídia com os ribeirinhos, índios e amazônidas em geral. Comenta ainda, sobre a falta de credibilidade na cultura dos índios, quando os indígenas, que já utilizam ervas medicinais há anos, perdem o direito e o crédito pela descoberta de novas substâncias.“Na mídia contemporânea, verifica-se aí um persistente focalizar/desfocar, dar a palavra para convalidar o discurso hegemônico, ou para silenciar os detentores de saberes tradicionais, que só se tornam visíveis e focalizados quando seu saber é extraído da floresta e testado nos laboratórios do mercado e do lucro.” Relata o Professor em seu texto.
Uma sitação comentada por Manuel Dutra é a repetição de situações em que a mídia menospreza completamente o saber e a cultura do amazônida, seja ele ribeirinho ou índio. Para reforçar seu comentário, ele compara a entrevista dada pelo Médico e dublê de star televisivo, como ele mesmo diz, Dráuzio Varella com o texto que compõe a narrativa do naturalista e pesquisador da medicina indígena Phillip von Martius, que mesmo separados por séculos, apresentam discursos muito semelhantes. Em seus comentários, eles negam os saberes e as culturas populares dos povos amazônidas, que há muito tempo convivem e utilizam das ervas que eles “supostamente” descobriram.“Ontem, a instituição científica, hoje a instituição-mídia, ambas reconhecendo e ao mesmo tempo negando a capacidade de grupos subalternos de terem o domínio, pelo conhecimento, do ambiente em que vivem. Uma negação que revela a primazia da instância científica sobre saberes longamente acumulados e vividos.” , enfatiza o professor.
Outro ponto importante do artigo de Dutra se dá quando ele fala do interesse da mídia na Amazônia e, mesmo assim, as grandes mídias acabam denegrindo a imagem da região e de seu povo. Visto que os meios de comunicação tem um campo amplo e vago para falar sobre o povo e a região amazônica, mas acaba utilizando de temas e contextos que lhes interessa e não se preocupam com o que estão escrevendo e divulgando sobre a região.
E as reportagens feitas pela mídia, ainda possuem o caráter de colônia x metrópole. A visão altamente preconceituosa como mostra este trecho do artigo do Professor Manuel Dutra “Ao analisar as ‘constantes temáticas’ presentes nas pautas das revistas impressas, Sodré (1992, p. 49-50) reafirma que a imagem feita da natureza brasileira, de lugares remotos e povos desconhecidos quase sempre revela ‘um país a descobrir’ ou ‘em vias de construção’, paisagem vista à maneira do descobridor.”.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

IEC desenvolve projeto para conter futuro surto de cólera


Amanda Campelo e Renan Mendes

O Projeto de Caracterização Genômica do Vibrio cholerae, desenvolvida pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), objetiva conter um futuro surto de cólera previsto para daqui a dois anos. Coordenado pela médica Lena de Sá, o projeto faz coletas semanais na região metropolitana de Belém para descobrir as mutações que o vibrião da bactéria está sofrendo.
Entre 2006 e 2007, uma cepa (grupo de descendentes com um ancestral comum) da bactéria foi isolada de uma amostra de água superficial coletada do Igarapé Tucunduba, no município de Belém, dando inicio às pesquisas do IEC.
O projeto tem por base a tese de pós-graduação de Lena, intitulada “Diversidade Genética de isolados ambientes de Vibrio cholerae da Amazônia brasileira”. Além de Lena, o projeto é constituído por bolsistas provenientes do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará.
Geovanni Oliveira, estudante do 4º semestre de Biotecnologia, é bolsista do projeto e afirma que “esta descoberta é de extrema importância para que possamos fazer a sua caracterização e descobrir se esta cepa - que até então só produz antígenos, mas não transmite a cólera - poderá ganhar novamente sua virulência (poder patogênico)”.
Vibrio cholerae, agente etiológico da cólera, é uma bactéria nativa de ambientes aquáticos de regiões temperadas e tropicais. A cólera é endêmica e epidêmica em países da África, Ásia e Américas Central e do Sul, sendo uma doença infecciosa intestinal aguda, exclusiva dos seres humanos, veiculada predominantemente pela água, mas também por alimentos.
As manifestações clínicas são variadas e vão desde infecções e quadros leves a casos graves, caracterizados por início repentino de diarreia aquosa e abundante, sem dor, vômitos ocasionais e câimbras. Esse quadro, quando não tratado prontamente, pode evoluir para desidratação grave, acidose metabólica, insuficiência renal e choque hipovolêmico. Segundo a doutora, a taxa de mortalidade pode chegar a 50%, mas com tratamento adequado não chega a 1%.

Número e percentagem de casos de cólera no Brasil, 1991-2008.

Região
Número                                              
                                          %
Norte
                    11.613
                                         6,89
Nordeste
                  155.357
                                       92,15
Sul
                          860
                                         0,51
Sudeste
                          473
                                         0,28
Centro-Oeste
                          285
                                         0,17
Brasil
                   168.588
                                          100
FONTE:Adaptadodehttp://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/casos_conf_colera_1991_2008.pdf Acessado em 12/08/2009.

A sétima e atual pandemia teve seu início registrado em 1961 na Indonésia. Há pouco tempo fora encontrado em Bangladesh um novo tipo de cepa que também está sendo estudada. A previsão de um novo surto de cólera eleva o grau de importância do projeto desenvolvido pelo IEC, pois assim que as mutações que o vibrião sofreu forem descobertas novas vacinas serão produzidas.

sábado, 1 de outubro de 2011

A Amazônia aos olhos da mídia



O jornalista e pesquisador da Universidade Federal do Pará Manuel Dutra escreveu o artigo “Mídia e apropriação de saberes tradicionais: a recorrência de um discurso de afirmação e de negação estratégicas”, analisando a maneira ambígua como a mídia trata os saberes dos povos da Amazônia.
Enfatizando o caráter da manipulação da informação a favor de interesses particulares, Dutra mostra como os povos que durante anos adquiriram conhecimento através da experiência são ofuscados pelos meios de comunicação quando se trata de reconhecer seus méritos medicinais. 
De acordo com o autor, que apresenta dados e exemplos ao longo do texto, a mídia traz à cena esses povos amazônicos para fazer prevalecer seu discurso midiático hegemônico e os ofusca “para silenciar os detentores de saberes tradicionais”, quando estes não são tão importantes quanto o fruto de seu trabalho ou o mercado para o qual serão destinados.

História
O jornalista explica que o fator principal para esse posicionamento oscilante dos meios de comunicação é o colonialismo histórico brasileiro, que “ora nega, ora percebe a existência da história de povos que têm o conhecimento do ambiente em que milenarmente vivem”, inferiorizando grupos não condizentes com suas normas de comportamentos estabelecidas.
Como um dos exemplos da dualidade dos discursos midiáticos, Dutra ressalta o caso do conhecido médico Dráuzio Varella. Em um programa de televisão, o médico aparece explicando “os benefícios de plantas e essências florestais para a produção de medicamentos para o mercado da medicina estabelecida pela sociedade branca” enquanto que, tempos depois, em uma edição da revista IstoÉ, afirmou não haver nada a ser aprendido com a medicina dos índios.

“Ciência branca”
Utilizando-se de autores conhecidos, como Phillip Von Martius e Sérgio Buarque de Holanda, o professor explicita a tendência que a mídia tem de exaltar a ciência em detrimento dos conhecimentos acumulados durante a vida dos nativos da Amazônia. A mídia veicula que “certa é a ciência branca e hegemônica”, encontrada em livros e textos televisivos, e não os saberes tradicionais.
Da análise do mesmo programa televisivo em qual aparece Varella, Dutra chega a algumas conclusões: tornou-se natural a visão de uma Amazônia sem evolução histórica, apenas parada no tempo, assim como uma divisão do trabalho que deixa o produtor na base da escala do comércio que, com sua rapidez de fluxos, naturalizam ainda mais esse ideário Amazônia estática.
Ao fim do seu texto, mesmo ciente do poder midiático, Dutra mostra-se confiante na reversão dessa imagem de não-sujeito que os meios de comunicação costumam passar sobre o amazônida. Para ele, os próprios nativos já começam a impor suas opiniões e seus símbolos onde antes apenas os sistemas emissores tinham voz.