O
jornalista e pesquisador da Universidade Federal do Pará Manuel Dutra escreveu
o artigo “Mídia e apropriação de saberes tradicionais: a recorrência de um
discurso de afirmação e de negação estratégicas”, analisando a maneira ambígua como
a mídia trata os saberes dos povos da Amazônia.
Enfatizando
o caráter da manipulação da informação a favor de interesses particulares,
Dutra mostra como os povos que durante anos adquiriram conhecimento através da
experiência são ofuscados pelos meios de comunicação quando se trata de
reconhecer seus méritos medicinais.
O
jornalista explica que o fator principal para esse posicionamento oscilante dos
meios de comunicação é o colonialismo histórico brasileiro, que “ora nega, ora
percebe a existência da história de povos que têm o conhecimento do ambiente em
que milenarmente vivem”, inferiorizando grupos não condizentes com suas normas
de comportamentos estabelecidas.
Como
um dos exemplos da dualidade dos discursos midiáticos, Dutra ressalta o caso do
conhecido médico Dráuzio Varella. Em um programa de televisão, o médico aparece
explicando “os benefícios de plantas e essências florestais para a produção de
medicamentos para o mercado da medicina estabelecida pela sociedade branca”
enquanto que, tempos depois, em uma edição da revista IstoÉ, afirmou não haver
nada a ser aprendido com a medicina dos índios.
“Ciência branca”
Utilizando-se
de autores conhecidos, como Phillip Von Martius e Sérgio Buarque de Holanda, o
professor explicita a tendência que a mídia tem de exaltar a ciência em
detrimento dos conhecimentos acumulados durante a vida dos nativos da Amazônia.
A mídia veicula que “certa é a ciência branca e hegemônica”, encontrada em
livros e textos televisivos, e não os saberes tradicionais.
Da
análise do mesmo programa televisivo em qual aparece Varella, Dutra chega a
algumas conclusões: tornou-se natural a visão de uma Amazônia sem evolução
histórica, apenas parada no tempo, assim como uma divisão do trabalho que deixa
o produtor na base da escala do comércio que, com sua rapidez de fluxos,
naturalizam ainda mais esse ideário Amazônia estática.
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