sábado, 1 de outubro de 2011

A Amazônia aos olhos da mídia



O jornalista e pesquisador da Universidade Federal do Pará Manuel Dutra escreveu o artigo “Mídia e apropriação de saberes tradicionais: a recorrência de um discurso de afirmação e de negação estratégicas”, analisando a maneira ambígua como a mídia trata os saberes dos povos da Amazônia.
Enfatizando o caráter da manipulação da informação a favor de interesses particulares, Dutra mostra como os povos que durante anos adquiriram conhecimento através da experiência são ofuscados pelos meios de comunicação quando se trata de reconhecer seus méritos medicinais. 
De acordo com o autor, que apresenta dados e exemplos ao longo do texto, a mídia traz à cena esses povos amazônicos para fazer prevalecer seu discurso midiático hegemônico e os ofusca “para silenciar os detentores de saberes tradicionais”, quando estes não são tão importantes quanto o fruto de seu trabalho ou o mercado para o qual serão destinados.

História
O jornalista explica que o fator principal para esse posicionamento oscilante dos meios de comunicação é o colonialismo histórico brasileiro, que “ora nega, ora percebe a existência da história de povos que têm o conhecimento do ambiente em que milenarmente vivem”, inferiorizando grupos não condizentes com suas normas de comportamentos estabelecidas.
Como um dos exemplos da dualidade dos discursos midiáticos, Dutra ressalta o caso do conhecido médico Dráuzio Varella. Em um programa de televisão, o médico aparece explicando “os benefícios de plantas e essências florestais para a produção de medicamentos para o mercado da medicina estabelecida pela sociedade branca” enquanto que, tempos depois, em uma edição da revista IstoÉ, afirmou não haver nada a ser aprendido com a medicina dos índios.

“Ciência branca”
Utilizando-se de autores conhecidos, como Phillip Von Martius e Sérgio Buarque de Holanda, o professor explicita a tendência que a mídia tem de exaltar a ciência em detrimento dos conhecimentos acumulados durante a vida dos nativos da Amazônia. A mídia veicula que “certa é a ciência branca e hegemônica”, encontrada em livros e textos televisivos, e não os saberes tradicionais.
Da análise do mesmo programa televisivo em qual aparece Varella, Dutra chega a algumas conclusões: tornou-se natural a visão de uma Amazônia sem evolução histórica, apenas parada no tempo, assim como uma divisão do trabalho que deixa o produtor na base da escala do comércio que, com sua rapidez de fluxos, naturalizam ainda mais esse ideário Amazônia estática.
Ao fim do seu texto, mesmo ciente do poder midiático, Dutra mostra-se confiante na reversão dessa imagem de não-sujeito que os meios de comunicação costumam passar sobre o amazônida. Para ele, os próprios nativos já começam a impor suas opiniões e seus símbolos onde antes apenas os sistemas emissores tinham voz.

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